Sunday, November 21, 2004

Não me fechem as portas

Não me fechem as portas...
A minha vida é uma janela que teima em bater com o vento, que estremece as portas de uma casa, que nos atormenta, que teima em aborrecer-nos, sem que saibamos o seu sentido.
Tenho que aprender muitas coisas, tantas que nem me lembro.
Se ao menos alguém me abraçasse e estivesse assim muito tempo, talvez para sempre.
Não tenho razões para estar triste, nem tenho razões para estar um bocadinho contente.
O problema não é existirem algumas coisas que me entristecem, mas saber que não existe nenhuma que me alegre.
Daqui a umas semanas acabam as aulas, mas isso não me assusta. Assusta-me não perceber nada do que se está a passar. Assusta-me sentir incapaz de fazer as coisas.
Está um tempo lindo lá fora, estive muito tempo à espera disto e agora não existe nada que me atraia.
Não me sai da cabeça a ideia de que não sou necessária a ninguém. Entristece-me ver que os pais são necessários para os filhos, os namorados para as namoradas, os amigos para os amigos.
E eu? Se eu não existisse, o mundo continuaria a andar, talvez melhor, porque eu cometo tantos erros, estou sempre a aborrecer toda a gente...
Sinto que não existe ninguém no mundo, que diga, “eu preciso que tu vivas, que fiques a meu lado, que estejas simplesmente aqui”.
Sinto-me triste, sem motivos para continuar...
Quero ser contabilista, mas, nem sei bem para quê. Mete-me nojo (e é esta a expressão), esta sociedade capitalista, onde só existe competição e mais competição. Temos que lutar para ultrapassar os outros. Ser contabilista já não é um sonho, é uma hipocrisia, é um envolver-me e aceitar esta sociedade em que vivo.
E, até as pessoas que falam comigo todos os dias, me irritam, me transmitem ideias que não são as minhas.
Penso não ter muitas coisas, não saber muitas outras, mas não sou igual a ninguém.
Não sinto uma mão amiga que me dê a mão, que mostre um bocadinho de afecto.
Até a minha tristeza aborrece os outros.
Até o meu desânimo, os faz aborrecer.
O eterno, deve ser uma ilusão, uma utopia.
Uma única imagem sempre na nossa cabeça, tento tirá-la e arrancá-la à força.
Quem me dera voltar ao tempo em que dizer mal de tudo e de todos me fazia sentir melhor.
Agora sou indefesa. A vida continua para todos. Só eu não tenho alguém para abraçar. Aliás, tenho muita gente a abraçar, e só a pessoa que quero abraçar não o faz, para eu me sentir completamente estúpida a amar.....
Sleeping Angel®

No comments: