Wednesday, January 19, 2005

Rascunho...

Thursday, January 13, 2005

Ultimo Beijo



As bocas ameaçavam
jamais desunir-se.
A lua,
cúmplice apaixonada,
derramava sobre eles
o seu leite como uma benção.
Eram tantas palavras para serem ditas
e tantas outras para se calar...
Era o tempo chamando para ir
e o desejo querendo ficar.
Na sofreguidão daquele beijo cálido
agonizavam as últimas estrelas
e a lua já findava o seu reinado.
Se o desejo fosse mais forte que a razão
a noite seria eterna,
porém nem aquele ávido amor era eterno,
a breve noite não poderia ser.
Assim como o último beijo
é eterno enquanto dura,
e faz-se presente em cada despedida,
aquele seria apenas o último...
até o próximo adeus.
É aquele que fica,
que permanece intacto na memória.
Tão último que ainda continua
húmido nos meus lábios.
Tão quente que acende
a chama da lembrança.
E a saudade arde.
É a vontade de ter novamente
aquela madrugada nos olhos.
É o desejo de ter tão ávidos beijos,
infinitos abraços,
eterno amor,
que embora se finde a cada despedida,
renasce na luz da lembrança.
E quando não há nada mais
do que se recordar,
permanece a marca...
como uma cicatriz de paixão,
como a união de todos os desejos,
como se a vida fosse acabar.
É eterno,
mesmo sendo efêmero.
É o que fica da saudade.
Um momento de amor.
O último beijo.

Saturday, January 08, 2005

Será?



Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.

Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.

Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será!

Será? - Pedro Abrunhosa