Saturday, August 05, 2006

O meu choro

Ontem chorei. Chorei, como choro quase sempre. Nem sempre, um choro molhado. Ontem chorei um choro estrangulado, ressequido, mais sentido que muitos prantos.
Ninguém notou que eu chorava convulsivamente. Não houve testemunha do meu quase-afogamento na secura.
Lágrimas aliviam, lavam a alma. Lágrimas são solventes, dissolvem mágoas. Lágrimas são coadjuvantes, no processo de abrandar a dor. E lágrimas são aparentes, rolam soltas pela face. Os olhos incham, há vermelhidão.No meu choro seco não…
Ontem chorei a seco. Tratei a amargura como roupa fina. Tecido que requer cuidado redobrado. Sequei a minha tristeza à sombra de mim mesma.Ninguém notou que retirei as nódoas e alisei os vincos de meu coração. Assim como ninguém percebe o estado de penúria em que se encontra: A pedir esmola mas pedindo pouco. O suficiente para sobreviver.
Ontem chorei. Atravessei o dia, invadi a noite, era madrugada e eu sem conter o choro.
Ninguém notou. Nem a fronha de meu travesseiro – cúmplice dos meus pensamentos, minha melhor amiga, perfumada e enxuta, permaneceu, indiferente ao choro que só eu sei, chorei.
Já era hoje e eu chorava. Ainda choro.

1 comment:

Catarina Ferreira said...

chorar alivia!!E pronto!!gostamos de chorar para acabar como sofrimento e largá-lo para fora!Se o sofrimento não acabar os amigos ajudam a esquecê-lo...Espero que seja para isso que aqui estou!!

**Beijinhos!!