Friday, December 29, 2006

"Naquela noite

(...) Apetecia-me ter ficado a conversar contigo até de manhã (...) senti-me em casa contigo dentro do carro, a tua voz era-me familiar, o teu olhar, a forma como falavas, as palavras que escolhias...
Nunca me acontecera isto antes, pelo menos de uma forma tão intensa e inequívoca. Tenho algum talento para encontrar pessoas com quem descubro quase instantaneamente múltiplas afinidades, mas o que senti naquela noite era diferente, muito mais profundo e, no entanto, infinitamente mais simples. Como se fizéssemos parte da vida um do outro desde sempre e a existência, por uma misteriosa razão, tivesse separado o que devia ter unido. Talvez a minha visão seja demasiado poética, exagerada, mas o amor é isto mesmo, ou se vive sem limites, ou então não vale a pena. (...)
Adorei-te logo, desde o primeiro instante, mas fiquei quieta, não quis que percebesses. (...)
O que eu queria era ficar contigo todos os minutos possíveis, como acontece aos apaixonados, mas também queria fazer tudo bem feito e por isso contive-me, deixando o momento respirar e sonhar contigo acordada, desejando que fizesses o mesmo. (...)
Sei que te vais rir quando leres estas linhas. (...) Porque o amor é mesmo isto; olhamos para o objecto amado no pedestal onde nós o colocamos, como um sonho impossível, numa nuvem que quase se consegue tocar, uma imagem à qual queremos ascender, uma miragem na qual desejamos mergulhar para sempre. Apaixonamo-nos para nos podermos elevar do mundo como ele é, dos seus cinismos e da sua brutalidade inevitável.
O amor serve para voar por cima das coisas más. O amor transforma os homens em heróis e as mulheres em fadas. E o meu amor por ti dá-me asas para sonhar, arriscar, descobrir, rir, sentir e, mais importante do que isso, escrever. Os poetas falavam das musas porque eram homens. Se fossem mulheres, teriam certamente os seus musos, como tu. (...)
Se não tivesse encantada contigo, quase poderia dizer que estava ali o início de uma bela e grande amizade. Mas conheço-me muito bem para saber que não foi como um novo amigo que olhei para ti. Olhei para ti como uma mulher olha para um homem quando o deseja, quando sonha com ele, quando quer entregar-se a ele e senti-lo dentro dela. E quando olhei para ti a primeira vez, houve uma coisa muito mais importante do que o que estava a sentir nessa noite..."

in Diário da tua ausência, Margarida Rebelo Pinto

Porque há historias com as quais nos identificamos

2 comments:

Adilia Pinto said...

Oi!
N podia deixar d comentar este post. :)

Livro mt bom!! Este texto dá mt k pensar mm, pois 1 pessoas identifica-se bastante com estas palavras...

jinhos, adilia
vemo-nos pela biblioteca lol

Catarina Ferreira said...

mt lindo!mt que pensar!mas, é amor mesmo n?É assim! beixinhuu*